sexta-feira, 20 de março de 2015

Ciúmes .... Regina Navarro Lins

É muito raro encontrar alguém que não considere o ciúme como parte do amor. Há quem acredite que sem ele não existe amor. Essa é mais uma daquelas afirmações que as pessoas repetem, sem nem saber bem por quê. É de uma falta de originalidade total. Por ciúme se aceitam os mais variados tipos de violência contra o outro, sempre justificados em nome do amor, claro. O ciúme é um sentimento natural, como qualquer outro - alegria, tristeza, raiva, saudade, admiração -, entretanto, ele não pode ocupar espaço maior na vida do que qualquer outra característica da pessoa.

A visão, equivocada, que se tem do ciúme na relação amorosa se origina na forma como o adulto vive o amor, muito semelhante à relação amorosa vivida com a mãe pela criança pequena. A criança sempre se sente ameaçada de perder o amor da mãe, mas ela tem um motivo real para isso: necessita de cuidados físicos e emocionais. Sem esse amor, perde o referencial na vida e fica vulnerável à morte física. Para se garantir, deseja a mãe só para si e, então, se mostra controladora, possessiva e ciumenta. Não é difícil entender.

Porém, quando crescem, todos imaginam que se tornaram independentes. Basta, no entanto, entrar numa relação amorosa e por meio da pessoa amada se tenta resolver todas as necessidades infantis que pareciam superadas. O antigo medo infantil de ser abandonado reaparece, e em tudo se reedita o modelo de vínculo primário que se tinha com a mãe. Acrescentem-se a isso as idéias tão propaladas na nossa cultura de que o amor é a solução para todos os problemas, e o convívio amoroso a única forma de atenuar o desamparo. A pessoa amada passa a ser então imprescindível. Como se fosse natural, se aceita que o controle, a possessividade e o ciúme façam parte do amor.

Os que defendem a existência do ciúme na vida a dois fazem ressalvas apenas quanto ao exagero e a comportamentos agressivos. Mas, independente da forma que se apresente, o ciúme é sempre tirano e limitador. Não só para quem ele é dirigido, mas também para quem o sente. O desrespeito que se observa numa cena de ciúme não se limita às agressões físicas. Até uma cara emburrada durante um passeio, por exemplo, pode impedir que se viva com prazer.

E quem é o ciumento? Em regra é quem apresenta duas características fundamentais: baixa auto-estima e incapacidade de ficar bem sozinho. Quem é inseguro, não se acha possuidor de qualidades e tem uma imagem desvalorizada de si próprio, teme ser trocado por outro a qualquer momento. Para evitar isso, restringe a liberdade do parceiro e tenta controlar suas atitudes. Só quem acredita ser uma pessoa importante não sente ciúme. Sabe que ninguém vai dispensá-lo com tanta facilidade. E se tiver desenvolvido a capacidade de ficar bem sozinho, sem depender de uma relação amorosa, melhor ainda. Pode até sofrer em caso de separação, mas tem certeza de que vai continuar vivendo sem desmoronar.

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