domingo, 8 de junho de 2014

Cecilia Sfalsin

Se responsabilize pela sua vida, pelo seu sorriso, pelas coisas que tem haver com você e que realmente te deixarão bem , e ignore o que em nada te acrescenta.... esta é a lei da vida..... ninguém sabe o que se passa com você , então se cuide .... porque felicidade da gente é só a gente que sabe aonde esta....

Drummondiano


Ela é rara, moço,
Rara do tipo
Que não se encontra
Perdida por aí,
Rara,
Quando escolhe Jobim
Durante a noite pra ouvir,
Tão rara,
Que com um único sorriso
Também te faz sorrir,
Ela é rara, moço
Do tipo que fica
Até mesmo
Depois de partir

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Soneto da saudade --- Guimarães Rosa

Quando sentires a saudade retroar 
Fecha os teus olhos e verás o meu sorriso.
E ternamente te direi a sussurrar:
O nosso amor a cada instante está mais vivo!

Quem sabe ainda vibrará em teus ouvidos
Uma voz macia a recitar muitos poemas...
E a te expressar que este amor em nós ungindo
Suportará toda distância sem problemas...

Quiçá, teus lábios sentirão um beijo leve
Como uma pluma a flutuar por sobre a neve,
Como uma gota de orvalho indo ao chão.

Lembrar-te-ás toda ternura que expressamos,
Sempre que juntos, a emoção que partilhamos...
Nem a distância apaga a chama da paixão

Vinicius de Moraes ---- Ai, quem me dera

Ai, quem me dera terminasse a espera
Retornasse o canto simples e sem fim
E ouvindo o canto se chorasse tanto
Que do mundo o pranto se estancasse enfim

Ai, quem me dera ver morrer a fera
Ver nascer o anjo, ver brotar a flor
Ai, quem me dera uma manhã feliz
Ai, quem me dera uma estação de amor

Ah, se as pessoas se tornassem boas
E cantassem loas e tivessem paz
E pelas ruas se abraçassem nuas
E duas a duas fossem casais.

Ai, quem me dera ao som de madrigais
Ver todo mundo para sempre afim
E a liberdade nunca ser demais
E não haver mais solidão ruim.

Ai, quem me dera ouvir o nunca-mais
Dizer que a vida vai ser sempre assim
E, finda a espera, ouvir na primavera
Alguém chamar por mim...

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Quando você se atira na água --- Daniel Bovolento

A primeira sensação é de espanto. É como se algo que você nunca previu ou alguma coisa na qual nunca acreditou finalmente acontecesse com você. Os pés ficam batendo um pouco na soleira do deck e você passa a respirar num ritmo mais controlado – você não quer ser lido.
A segunda sensação é a que faz começar o turbilhão. Como uma revoada involuntária de pássaros selvagens, a sua cabeça tenta organizar as coisas depressa pra levantar vôo. O instinto de proteção sugere a fuga rápida e sem planejamento aparente. Corre, cara, você vai se ferrar se ficar por aqui.
Logo em seguida, bate a percepção de que o porto acaba à frente. Só existe um mar gelado e pouco cristalino, com águas turvas que não refletem o seu medo de pular. Olha pra um lado, olha pro outro. O céu já vai se tornando escuro e as coisas começam a ficar complicadas. Você precisa ganhar tempo ou buscar recursos. Procura por bóias ou botes e não acha. Procura por uma fuga pra estrada e sente como se algo prendesse seu pé direito num instinto-âncora inesperado. Tem que se jogar ao mar ou deixar o escuro te engolir enquanto o tempo passa.
Você não sabe nadar e também tem medo do escuro.
Algo acontece. Não de repente, mas gradualmente, você se dá conta do desafio e tenta se decidir. Olha pro peito, põe a mão do lado esquerdo e sente arrepio. Bateria desordenada. Boom. Algo explode. Você ainda não descobriu o que é. Já não tem mais tempo e as coisas vão passando mais rápido. O farol apaga, a noite cai, o escuridão engole o porto e então você.
Um pouco longe, do outro lado da praia. Você consegue enxergar e abre um sorriso. O caminho escuro, o terreno desconhecido, o mar assustador que não se deixa ler. Alarga o sorriso. Seu corpo é o barco e o escuro é o corpo desconhecido do outro.
E você se atira na água pra descobrí-lo.
No fim, se apaixonar é quase igual a um acidente de barco. Leia as cartas marítimas, siga firme com o timão e prepare-se sempre – mesmo despreparado – pra casos de naufrágio. A vista submersa do mar pode ser bonita. Ou você pode se afogar.