quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

M.F

Um copo de morte, por favor!
Um sorriso do outro lado do balcão. Um sorriso pelos meus olhos vermelhos. Um sorriso pelo meu rosto molhado. O sorriso de quem sempre soube que pediria a morte como salvação de momento e não como pena a cumprir eternamente.
O líquido, cor de âmbar, ardeu ao percorrer-me a garganta. Sabia bem aquele travo a fim. Aquele sabor a não mais chorar. Aquele travo agridoce que pararia o meu coração, demasiado cansado de bater.
Podia ter-me arrependido. Podia ter sentido saudades de mim. Saudades de ti. Saudades do teu sorriso que jamais voltaria a estar do outro lado do balcão, pronto a servir-me a morte.
Tudo o que senti foi a calma de poder encontrar a paz além do teu sorriso trocista.
Bebi um copo de morte para fechar os olhos à alma. Porque a minha alma estava quebrada. Sangrava sempre, invisível aos olhos dos cegos que usam apenas o olhar para distinguir o que é físico.
E a minha alma não tinha nada de imortal!
O teu sorriso matou-me a alma naquele copo de morte que apenas me parou o coração.
- Um copo de morte e a conta…
Pousei a cabeça sobre os braços e sorri. Estava feliz. E os teus olhos brilharam antes de chorarem. Antes de servires a ti mesmo um copo da mesma morte à qual me condenaste muito antes de sorrires.

Marina Ferraz

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