terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

M.F


Vejo-me atravessar a noite qual fantasma triste, vagueando sem destino nem vontade. Não sou melhor nem pior do que um dia fui... estou simplesmente vazia. Despida de vida, despida de amor, despida de todos os sonhos, mesmo dos que já realizei.
E atravesso a noite. Os meus pés, ao tocarem o chão, fazem ecoar o passado. Renascem tantas vozes dos meus passos... e eu ouço-as vibrando dentro de todo o meu vazio.
Não tenho sombra nem esperança. Não há luz para que as tenha... há apenas a noite da noite que atravesso e um corredor que não leva a lado algum.
E, qual fantasma deambulando pelos sonhos alheios, fico imóvel e olho em redor. Não sei se procuro o teu rosto ou se me certifico de que o não vejo. Vazio, sempre este vazio...
Não foi assim que imaginei os sonhos! Imaginei que, em algum momento ias chegar e eu já não ia ser apenas um fantasma taciturno vagueando nas noites de tristeza; aquelas noites que não amanhecem e que ficam dentro desta alma, acorrentando-me ao chão frio de não saber o que vem amanhã. Imaginei que ia sorrir mas fazê-lo com todo o sentido. Sorrir de verdade, com aqueles sorrisos que não esmorecem e que ninguém rouba.
Mas vejo-me atravessar a noite fria, passando pelos mais frios penhascos e pelos corredores mais vazios de uma vida sem vida. E, num momento de desespero, vejo-me, qual fantasma, saltar sem medos para o precipício, desejando mais do que tudo um fim para esta farsa à qual ainda há quem chame vida.
E acordo dos meus sonhos. Não sou já um fantasma mas não julgo ser mais...
Ficou para trás o penhasco e o corredor e até os mil sonhos dos meus sonhos. O vazio, esse velho amigo de todas as horas, continua aqui!

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