sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Antonio Augusto

Desistindo de dormir ligou a TV. O canal de filmes apresentava Pontes de Madison.
A história de Francesca e Robert, cujo encontro inesperado e uma semana especial juntos, a obrigaram a escolher a vida tão previsível que tinha, ao invés do amor que a despertou.
A vida é sobre opções e perdas, pensou ele e começou a relembrar.
A primeira vez que a viu foi na garagem do prédio que trabalhavam. Trocaram olhares e o sorriso dela deixou nele uma sensação de alegria que permaneceu. Novas coincidências ocorreram, seguidas de gestos, do desejo de falar, de saber mais sobre o outro. Os impulsos eram contidos pelo fato de ambos serem casados, terem filhos, casamentos estáveis mas sem solução.
Aos encontros na garagem se seguiram almoços e muitas conversas. Tornaram-se amigos e confidentes. Criaram uma intimidade profunda e falavam de tudo. Tinham um interesse mútuo que fazia de cada encontro uma celebração.
Gostavam da companhia que se faziam e quanto mais se conheciam, mais próximos se tornavam e mais inseparáveis. Os fins de semana eram longos demais e as segundas feiras celebradas com os primeiros raios da manhã.
Enganaram-se por um período, que aquela amizade profunda era uma forma de amor que não podia ser condenada, nem era pecado.

Uma viagem a trabalho para o mesmo destino os colocou onde sempre sonharam: um lugar estranho, onde eram desconhecidos e podiam se aproximar mais, andar de mãos dadas e ser naturalmente o que eram, um homem e uma mulher que se amavam intensa e perdidamente.
A primeira noite juntos foi sublime e especial. Amor e afeto se fundiram multiplicando o prazer. Ele passou muito tempo simplesmente tocando o corpo dela, parando em cada cantinho e feliz, descobria o impacto de cada toque, a medida que ela se abria e se entregava. O ato foi de um simbolismo grande, ele entrou em suas pernas que o receberam como se nunca fosse deixá-lo partir. Emoção e desejo eram indistinguíveis, fizeram amor como se a noite fosse interminável e pela última vez.
Tomaram o café da manhã no quarto onde permaneceram até o entardecer, compromissos cancelados, vida parada se submetendo ao que realmente importava.
Aquele dia os havia modificado para sempre, eles sentiam e sabiam. Seria quase impossível abrir mão de tudo que viveram.
Voltaram aos seus lares pensando no que fazer. Começaram a falar sobre terminar os casamentos insolúveis e a viver o encontro que sempre sonharam. Por mais que quisessem sabiam que não seria fácil desfazer a vida familiar e os danos que viriam.
Oito meses depois ele tomou a iniciativa. Separou-se e esperou por ela. Os meses foram passando lentamente, mas ela não conseguia tomar a decisão.

Ele percebia sua angustia pela incapacidade de fazer o que ele já havia posto em prática. Tudo parecia tão próximo mas inalcançável.
Entao, pior do que esperar era ver o sofrimento dela, a perda de peso, os traços que apareciam no seu rosto e o sorriso que deixava de existir.
Ele resistiu o quanto pode, mas sabia que ela não conseguiria desfazer-se dos vínculos. Aquela situação era a prova definitiva para aquele amor que a vida o havia presenteado. Amá-la de verdade significava deixá-la partir, deixá-la viver aquela escolha e a perda inevitável.
Assim, ele fez o que precisava ser feito. Mudou de cidade.
Passou muito tempo de luto, sofrendo com as lembranças e imaginando como poderiam estar vivendo aquele amor.
Sete anos depois ela ligou e disse que precisavam conversar. A voz parecia fraca e trêmula. Se encontraram e ela explicou que seria mais uma despedida, agora a definitiva. Estava doente sem saber ao certo quanto lhe restava de vida, que pensou nele todos os dias desde que se separaram e sentia muito não ter tido a coragem de seguir seu coração.
Foi impossível conter o choro. Ainda se amavam, e por certo ele nunca a esqueceria. Ela disse que tê-lo amado fez a vida valer a pena.
Ele acompanhou tudo a distância nos meses seguintes, inclusive a cerimônia final, se despedindo da mulher que tanto amava.

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