sábado, 8 de setembro de 2012

Sou Tu


De desejar-te, imaginei-me tu.
Sem perder consciência do meu arfar por ti,
percorro-me inquirindo-te em todo mim,
vejo-me toco-me porque sou todo tu,
e amo-me em ti que me dás forma e vazas de mim em mim.
Se de fechados olhos me contemplo, sou um,
e perco-me na visão de um mar de que sou a água,
e, flor (flor de tuas pétalas composta) arrasto-me entre
(e sou) teus pés
e sonho-te de dentro para fora e dos teus próprios olhos
olho para a tua vária escuridão e adivinho-te clara e
toda, ó obscura!,
e sei-te pedra por pedra: pedraria sem cor e de todas as
cores.
Então eu não sou eu; sou eu pretérito no teu presente:
sou ou sob os mil e mil disfarces do teu prodígio:
sou tu imaginadamente.
Sou dois quando te olho sem olhos:
sou o teu espelho que te vê,
e sinto-me e vejo-me fora e dentro de ti, meu sujeito e
meu objeto,
contempla-te minha adoração e em ti estou,
em ti circulo, em ti fendo-me em nítida púrpura;
sou tua sede, minha fome, teu trigo, dupla fonte,
lábios e língua, dente e seio, ventre e ventre, incubo e
súcubo.
Sou dois, e posso ver-me incendiado em teu vinhedo de
chamas,
que sinto enrolar-me e pesar em mim com seu fog
o de veludo
e ferro 

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