I Gentil, engraçado infante Nos teus jogos inconstante, Que tens tão belo semblante, Que vives sempre a brincar, - Dos teus brinquedos te esqueces À noitinha, - e te entristeces Como a bonina, - e adormeces, Adormeces a sonhar! II Infante, serão as cores De várias, viçosas flores, Ou são da aurora os fulgores Que vem teus sonhos doirar? Foi de algum ente celeste, Que de luzeiros se veste, Ou da brisa é que aprendeste, Que aprendeste a suspirar? III Tens no rosto afogueado Um qual retrato acabado De um sentir aventurado, Que te ri no coração; É talvez a voz mimosa De uma fada caprichosa, Que te promete amorosa, Algum brilhante condão! IV Ou por ventura és contente, Porque no sonho, que mente, Fantasiaste inocente Algum dos brinquedos teus!. . . Senhor, tens bondade infinda! Fizeste a aurora bem linda, Criaste na vida ainda Um’outra aurora dos céus. V O som da corrente pura, A folhagem que sussurra, Um acento de ternura, De ternura divinal; A indizível harmonia Dos astros no fim do dia, A voz que Mêmnon dizia, Que dizia matinal; VI Nada disto tem o encanto, Nada disto pode tanto Como o risonho quebranto, Divino - do seu dormir: Que nada há como a Donzela Pensativa, doce e bela, E a comparar-se com ela... Só de um infante o sorrir. VII Mas de repente chorando Despertas do sono brando Assustado e soluçando... Foi uma revelação! Esta vida acerba e dura Por um dia de ventura Dá-nos anos de amargura E fráguas do coração. VIII Só aquele que da morte Sofreu o terrível corte, Não tem dores que suporte, Nem sonhos o acordarão: Gentil infante, engraçado, Que vives tão sem cuidado, Serás homem - mal pecado! Findará teu sonho então. |
domingo, 24 de fevereiro de 2013
A um menino --- Gonçalves Dias
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