Doce fantasma, por que me visitas como em outros tempos nossos corpos se visitavam? Tua transparência roça-me a pele, convida a refazermos carícias impraticáveis: ninguém nunca um beijo recebeu de rosto consumido. Mas insistes, doçura. Ouço-te a voz, mesma voz, mesmo timbre, mesmas leves sílabas, e aquele mesmo longo arquejo em que te esvaías de prazer, e nosso final descanso de camurça. Então, convicto, ouço teu nome, única parte de ti que não se dissolve e continua existindo, puro som. Aperto... o quê? a massa de ar em que te converteste e beijo, beijo intensamente o nada. Amado ser destruído, por que voltas e és tão real assim tão ilusório? Já nem distingo mais se és sombra ou sombra sempre foste, e nossa história invenção de livro soletrado sob pestanas sonolentas. Terei um dia conhecido teu vero corpo como hoje o sei de enlaçar o vapor como se enlaça uma idéia platônica no espaço? O desejo perdura em ti que já não és, querida ausente, a perseguir-me, suave? Nunca pensei que os mortos o mesmo ardor tivessem de outros dias e no-lo transmitissem com chupadas de fogo aceso e gelo matizados. Tua visita ardente me consola. Tua visita ardente me desola. Tua visita, apenas uma esmola. |
sábado, 10 de setembro de 2011
Aparição amorosa..
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